RIO - "É a chuva chovendo, é conversa ribeira/ Das águas de março, é o fim da canseira/(...) É o projeto da casa, é o corpo na cama / É o carro enguiçado, é a lama, é a lama...". Numa de suas mais belas e conhecidas canções, Tom Jobim fez poesia a partir do cotidiano de seu amado sítio do Poço Fundo.
O "carro na lama", por exemplo, era o de João Gilberto, indo encontrar o arranjador de seu disco de estreia, em 1958, na pequena São José do Vale do Rio Preto, que, em boas condições meteorológicas, fica, atualmente, a cerca de 40 minutos de Petrópolis. Mas, desde a madrugada de terça-feira, como muitas outras da região, a cidade está ilhada.
Na manhã de quarta-feira, Daniel, neto de Tom, também pianista e compositor, ligou para os pais, Eliane e Paulo Jobim, avisando que estava bem, mas, boa parte da propriedade foi devastada pelas águas de janeiro. Uma das casas, mais próxima ao rio que dá nome à cidade, foi arrastada; outra, parcialmente destruída; restou a principal, que Jobim começou a construir no início dos anos 70, quando escrevia "Águas de março".
Sem luz ou telefone fixo, Daniel conseguiu sinal para o celular subindo no alto do morro no fundo da propriedade e acalmou temporariamente seus pais, que, pretendem resgatar o filho nesta sexta-feira.
Tom Jobim passou a se refugiar no sítio do Poço Fundo no fim dos anos 50, então de sua mãe, Nilza, e seu padrasto, Celso Frota Pessoa. Na época, já um ecologista, seu plano era replantar a vegetação natural, da qual só restavam 10%. Apesar de a região ter recuperado 40% da mata nativa, as águas de janeiro foram mais fortes.
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